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Dança de cadeiras no seguro de crédito

Fernando Blanco deixa Coface; outras três maiores no setor trocam presidentes após ano ruim

Uma verdadeira reviravolta na direção das seguradoras de crédito tomou conta do mercado brasileiro, após um ano de forte inadimplência no crédito entre empresas e portanto de muitos sinistros no setor. A maior surpresa será anunciada nesta semana: Fernando Blanco, presidente da Coface do Brasil, resolveu deixar o cargo que assumiu ainda em 2006. Deverá ficar na Coface até o final deste mês.Em entrevista ao Valor , Blanco confirmou sua saída. “O que mais gosto de fazer é desenvolver novos negócios, promover e gerenciar grandes mudanças,arrancadas. Como o momento agora é de calmaria e de acomodação, por contada crise de crédito que afetou o setor globalmente, resolvi buscar novos desafios”,diz ele.

Segundo Blanco, não apenas os limites da Coface para o Brasil não estão crescendo, mas o próprio resseguro continuará menos ofertado e muito mais caro.No lugar de Blanco assume o francês Joel Paillot, que hoje é funcionário da Coface na Alemanha, um homem da área de crédito. É mais um sinal, segundo corretores, de que a Coface, do grupo francês Natixis, estaria mesmo com o pé nofreio. Além da Coface, mudaram sua direção no Brasil outras três principais participantes. A Cesce, do governo da Espanha, foi a primeira a realizar mudanças: ainda em meados de 2009 unificou a seguradora de crédito àexportação com a seguradora de crédito interno ao mesmo tempo em que substituiu o presidente na Secreb (Seguradora de Crédito do Brasil), a empresa do grupo que fazia crédito à exportação, Werner August Sönksen. No seu lugar assumiu Enrique Asenjo Ayesta, vindo da Espanha, mas da área comercial. É umsinal de disposição de crescimento maior no mercado brasileiro por parte da empresa. A relação entre o total de perdas e os prêmios da Cesce no ano passado, o chamado índice de sinistralidade, foi de 1,10% no crédito interno e de0,21% no seguro de crédito à exportação, no período de janeiro a novembro.Depois das mudanças na Cesce, foi a vez da segunda colocada no mercado brasileiro de seguro de risco de crédito, a franco-alemã Euler Hermes, subsidiária da francesa AGF e membro do grupo alemão Allianz, com ações negociadas na bolsa de Paris. Ainda em novembro do ano passado, o ex-presidente Gilson Bochernitsan deixou a empresa e foi substituído pelo também brasileiro Guilherme Perondi, que já estava na companhia como diretor.
Perondi disse que, após três anos em São Paulo, o gaúcho Bochernitsan vinha apresentando vontade de
voltar a Porto Alegre. Perondi não negou, no entanto, que tempos difíceis como os do ano passado acabam provocando “ alterações corporativas importantes, pois disparam mudanças estratégicas nas companhias”. No caso da Euler Hermes,segundo ele, os sinistros já voltaram ao normal e a ideia agora é crescer.“Esperamos um aumento de 15% no mercado neste ano e queremos ganhar participação e novos clientes”, disse. “Estamos com vários executivos da matriz avaliando o mercado brasileiro, pois nossa prioridade internacional será a América Latina, com destaque para Brasil, e a região da Ásia e do Pacífico”, disse.A empresa pretende contratar: tem 30 funcionários hoje e pretende ampliar essequadro em mais de 10%. No crédito interno, a Euler Hermes teve sinistralidade de0,98% de janeiro a novembro e no crédito à exportação, de 0,5%.
Também a espanhola Credito Y Caución trocou seu presidente no país: saiu o espanhol Jesús Angel Victorio Cano, que voltou para trabalhar na seguradora na Espanha, e assumiu em seu lugar Flávio Navarro, que já era diretor da companhia e é hoje um dos maiores especialistas no seguro de crédito no Brasil. A empresa teve, de janeiro a novembro de 2009, sinistralidade de 0,81% no seguro de crédito

interno, mas de 3,4% no seguro de crédito à exportação, segundo a Susep.
A Coface, apesar de sinistralidade de 1,41% no seguro de crédito à exportação e de 0,52% no seguro de crédito interno de janeiro a novembro, a maior para todas as unidades da empresa na América Latina, obteve lucro de R$ 7,9 milhões em2009, conta Blanco. Isso por causa do resseguro que a empresa havia feito. Em entrevista ao Valor em Paris, indagado sobre as perspectivas da companhia neste ano, o CEO da Coface, Jérôme Cazes, disse que está neste momento “olhando o mercado brasileiro de perto e gerenciando a carteira” para ver quando voltará acrescer sua exposição ao país. Segundo o Valor apurou no mercado, o Natixis avaliava trazer ao país novos negócios, como uma estrutura de cessão de recebíveis com seguro de crédito, sem direito de regresso do banco contra a empresa cedente. Mas esses novos projetos também estão parados, pelo menos por enquanto.

fonte: Cristiane Perini Lucchesi  (Valor Econômico)
notícia publicada originalmente em 03.02.2010