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Cai preço do seguro de crédito.

Menos perdas Coface, líder no mercado, vê pressão baixista e corretores confirmam.

Depois de aumentos de 10% até 30% em 2010, os preços do seguro de crédito no mercado interno e também à exportação começam a cair. “É o início de um novo ciclo, claramente, com pressão de baixa nos preços e de crescimento mais acelerado”, disse Bart Pattyn, presidente e CEO na América Latina da francesa Coface, do grupo francês Natixis, a líder do mercado no Brasil.

O seguro de crédito serve para cobrir perdas nos empréstimos de uma empresas a outra. Segundo explica Pattyn, se uma apólice tem muitas perdas em um ano, os preços sobem. No caso contrário, os preços caem. “Em 2011, nas renovações das apólices, eu espero que muitas empresas que tiveram um bom ano, que não tiveram muitas perdas, vão ter um preço melhor disponível”, diz.

“Os preços para as maiores empresas já começaram a cair”, confirma Eric Brabenec, sócio-diretor da GECO Serviços Financeiros, corretora especializada no seguro de crédito. Segundo ele, uma multinacional brasileira sua cliente conseguiu redução de 50% na comparação com o ano anterior. As empresas não tão grandes terão estabilidade nos preços, diz.

Os primeiros seis meses de 2009 foram de uma crise profunda de crédito para as empresas, que deixaram de pagar clientes e fornecedores e a Coface teve de cobrir essas perdas das seguradas. “Durante 2010, houve bem menos sinistros e um monte de dívida em atraso começou a ser paga”, relata Pattyn. Com isso, o dinheiro dessas dívidas veio para o caixa da Coface, que melhorou seus lucros.

Em 2009, os lucros foram de R$ 7,9 milhões no Brasil, enquanto que, em 2010, o resultado subiu para R$ 24 milhões. “As consequências são um efeito muito positivo na taxa de sinistralidade”, diz. Essa taxa é a relação entre as perdas com indenizações pagas e as receitas com apólices e recuperação de perdas. No caso da Coface, despencou de 100% em 2009 para30% em 2010.

No mercado interno, a Coface tinha uma exposição muito grande ao setor agrícola por meio de empresas de fertilizantes, que se mostrou problemática na crise, mas teve recuperação forte em 2010. No crédito à exportação, o principal problema foi com importadores de produtos brasileiros da Venezuela. “O Cadivi (Comissão de Administração de Dívidas da Venezuela,que tem como objetivo administrar o mercado cambial venezuelano) cria um longo e burocrático atraso no pagamento da dívida”, comenta Pattyn. Em 2010, uma dívida de US$ 4,5 milhões indenizada pela Coface em 2009 foi paga por empresa da Venezuela.

 

Coface vê risco de bolha no Brasil
Seguro de crédito Excesso de dólar especulativo pode trazer movimento brusco no câmbio

O fluxo externo de recursos “especulativos” para o Brasil em excesso é um dos principais riscos para as empresas do país,segundo Yves Zlotowiski, economista chefe da Coface, empresa que faz seguro de crédito — cobre as perdas da

inadimplência nos empréstimos entre companhias.
Para ele, “o Brasil tem azar de ser tão atrativo” neste momento, pois a apreciação na taxa de câmbio prejudica o setor manufatureiro, que reduziu suas exportações quase pela metade. “Você tem risco de apreciação do dólar agora, sem dúvida”,comenta. “Mas, como essa apreciação é muito vinculada a fluxos especulativos, você pode ter notícias ruins na Europa com uma aversão ao risco muito grande e todo esse dinheiro sair do país”, comenta. “Quando você tem esses fluxos especulativos,eles podem entrar muito massivamente, mas pode sair brutalmente, como você viu em 2008.” Segundo ele, “os fluxos especulativos causam problemas quando entram e quando saem”.

O economista considera que, se o Brasil quiser ter um boom de investimento e crescer a taxas acima de 4,5% nos próximos anos vai precisar de mais recursos externos.“A questão é que o crédito doméstico é muito caro e você poderá ver nos próximos anos um crescimento forte de dívida externa privada”, comenta. Segundo ele, “você tem de ter cuidado, pois se o real se apreciar muito e depois depreciar muito você pode tornar difícil para as empresas pagarem a dívida”.

No entanto, de uma forma geral a Coface está “muito positiva” com relação ao risco-Brasil, disse Zlotowiski ao Valor . Em setembro, a seguradora elevou a nota brasileira de “A4” para “A3”, em uma escala de sete letras que vai de “D”, a nota mais baixa, até “A1”. “Dada a experiência de pagamentos durante a crise e depois da crise, o que nós vemos no Brasil não é simplesmente que não temos choques nem volatilidade, mas também que as companhias estão mais fortes para lidar com a volatilidade”, afirma.

Com a elevação da nota brasileira, a Coface quer não apenas ampliar a carteira, mas pretende crescer mais agressivamente no país neste ano, segundo Bart Pattyn, presidente e CEO da seguradora na América Latina. Em 2010, o total da exposição da empresa ao risco Brasil passou de US$ 1,65 bilhão a US$ 2,5 bilhões no seguro de crédito à exportação, um aumento de mais de 51%, enquanto o seguro no crédito entre empresas no mercado interno foi de R$ 14,2 bilhões a R$ 15,8 bilhões, um aumento de 11%.

“O mercado de seguro de crédito interno no Brasil não cresceu, mas nós crescemos”, diz. A ideia neste ano é ampliar a carteira com mais força, de forma a ampliar o mercado todo. A Coface tem 55% de participação no mercado interno de seguro de crédito no Brasil e 68% do mercado de seguro à exportação (números de 2010 até novembro).

Segundo Pattyn, depois da redução drástica de limites em 2009, o ano passado foi “turbulento”. No crédito à exportação,conta, muitas das empresas que estavam acostumadas a ter apólices com a Coface voltaram em busca de cobertura e essa parte do negócio cresceu, com o total de prêmios chegando a US$ 19,4 bilhões, um aumento de 33,75% na comparação com2009.

Mas, no mercado de seguro doméstico algumas das grandes apólices não foram renovadas.
Os prêmios foram de R$ 55 milhões, um aumento de apenas 1% na comparação com 2009. Éuma das consequências do corte imposto pelas seguradoras durante a crise de 2009: muita das empresas clientes viram seus limites secarem no momento em que mais precisavam deles, em uma das piores crises de crédito da história. E as empresas brasileiras ficaram descrentes no produto.

“No início de 2010, muitas empresas ficaram insatisfeitas com o nosso serviço ou com o nosso preço, que subiu”, conta.Mas, mais para o final de 2010, a situação começou a se normalizar. Neste ano, as perspectivas são mais positivas, diz Pattyn.“Va mos ampliar nossa exposição em toda a América Latina, com exceção da Venezuela, vamos contratar, não há restrição no crédito”, afirma. “E as nossas pessoas da área comercial estão todas dedicadas a emitir apólices adicionais”, comenta.Segundo Pattyn, a “nossa prioridade durante 2011, que já foi definida no final do ano passado, é trazer de volta satisfação para nossos clientes existentes, ampliando os limites desses clientes e melhorando o preço na medida do possível, pois durante a crise alguns ficaram desapontados”. A segunda prioridade da empresa é ampliar mais sua fatia de mercado e fazer o mercado crescer de novo, afirma.

Fonte: Valor Econômico
Notícia publicada originalmente em 24.01.2011